11 de junho de 2014

Prosa

Abri os olhos e eram quase quatro da manhã. Sentia-me exausta e ainda não tinha conseguido adormecer, o sono esquecera-se de mim por mais uma noite. Fitei o tecto. Por instantes quebrei as leis da física e rompi barreiras espácio-temporais. Quando voltei a mim percebi que estava a sonhar acordada. Talvez por não conseguir dormir, esta foi a forma que o meu corpo encontrou de fugir à situação desconfortável em que estava, obtendo assim um pouco de descanso ligeiro.

Aflige-me o mundo, ouvi alguém dizer. Olhei em volta. Não havia mais ninguém no quarto. Lá estava eu a fugir, outra vez, para a lua. Alguém me dissera, realmente, aquilo. Quem foi? Não me recordava. Quando foi isso? Não sabia. Que miséria ser jovem com falta de memória! Pensando melhor, talvez fosse melhor assim. Como diz o velho ditado: o que os olhos não vêem, o coração não sente. É preferível não recordar que depararmo-nos diariamente com algo que nos aflige excessivamente. Ou não? Será melhor enfrentar uma dura realidade todos os dias, lutar contra ela até gastarmos a nossa última molécula de glicose? Ignorância ou mal-estar? Boa questão! Um personagem de romance, nobre de espírito, escolheria a segunda opção. Quase que o conseguia ver, talvez um cavaleiro, para dar asas a este cliché, a empunhar a sua espada, montado no seu cavalo, vestindo um olhar corajoso… Contudo, e tendo em conta que não tenho a minha espécie em grande consideração, deduzi que todas as pessoas à face da Terra optariam inconscientemente pela primeira. E porquê inconscientemente? Porque muitas delas, se soubessem da minha convicção, procurariam modificá-la. Tentativas falhadas de vangloriar a espécie humana.

Quem levou outras espécies à extinção sem necessidade? Quem conspurcou o planeta com tóxicos e lixo não-degradável? Quem se acha senhor do cosmos e tenta manipular tudo, sem ponderar as consequências? O Homem. O Homem. O Homem. Vivemos tão racionalmente isolados nas nossas cidades e vilas, tão emocionalmente ocupados com procuras de respostas e momentos que nem sabemos serem possíveis. Critico-me a mim. Eu que tenho preguiça de reciclar, que deixo pontas de cigarro no passeio, que perco a cabeça com nada de importante e que deixo passar tantas oportunidades de melhorar a realidade de alguém, desta ou doutra espécie. Olhei novamente o relógio. Cinco em ponto. Voltei a fechar os olhos. Com sorte a minha cabeça barulhenta só voltaria a revelar-se na manhã seguinte, depois de umas horas de sono há muito esperadas.

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