25 de junho de 2014

Cabelo

Tenho o cabelo sujo. Há semanas que carrego este cabelo sujo na minha cabeça. Causa-me comichões, deixa-me irrequieta. Quero tocar-lhe, mexer-lhe, arrancar pequenos fios e saborear o prazer que as ondinhas de dor deixadas na cicatriz da raiz me causam. Quero arrancá-lo, puxá-lo, arrancá-lo todo. Deixa-me irritada. Sai pelo cabelo o fracasso da minha mente. Desfragmenta-se nas pontas duplas.

Nas pernas, os pêlos do inverno abrem alas para os ventos do verão por vir. Movem-se e causam-me a sensação de que um pano de seda corre pelas minhas pernas. Abro as janelas e as portas da casa e coloco-me no ponto onde as partículas se chocam, para sentir melhor a seda que as minhas pernas me dão mas que a carteira não me permite [obter]. Desfruto o momento e esqueço o cabelo por breves instantes.

As minhas lágrimas sempre sofreram pelos fracassos da minha mente. Mais que os meus cabelos, as lágrimas. Anseiam pelo momento em que poderão escorregar pelos meus olhos abaixo. Algumas fogem-me dos olhos nos dias solarengos. Não deve haver espaço para todas, suspeito. Deixo-as sair nos dias de chuva, para que se confundam e julguem que o chão é a sua direção e o céu a sua origem. Mas os meus olhos vermelhos não mentem.

Sem comentários: