3 de março de 2014

Avançar para a frente

Reza a lenda que foi o próprio Dom Afonso Henriques a cunhar a expressão quando um soldado algo vesgo lhe perguntou para que lado haveriam de avançar. "Para a frente, avancem para a frente" - disse, apontando em direcção ao Alentejo. E foi assim, avançando para a frente, que se foram os mouros, os espanhóis, os ingleses e os outros. O que ficou para trás foi algo que, devo confessar, acho fantástico. Acusem-me de saudosismo, patriotismo exacerbado ou de falta de contacto com a realidade. Não me interessa. Acho este país maravilhoso e cada vez tenho (eu e o mundo) mais provas disso. O que o torna tão bonito não são só as paisagens, a comida, o tempo, as cidades, as pessoas, a cultura, a história ou a pretensão para o fatalismo - da qual partilho - é a atmosfera. Portugal está envolvido numa atmosfera paradoxal, de amor-próprio e queda para a auto-destruição - melhor resumida por outra expressão tradicional (patrocinada pelos romanos), "não se governam nem se deixam governar". É esta a atitude que me faz ser português e que está cravejada na personalidade colectiva do país. Conseguimos deitar ao mar todos os sucessos que alcançámos, deixando apenas as suas memórias. Mas tudo bem, talvez seja esse o nosso maior sucesso. Ser uma espécie de incubadora disfuncional, capaz de criar a ideia, sustentá-la até que cresça e ultrapassar a pequenez do nosso território, dando-se ao mundo. Até posso estar errado, mas pelo menos é um lado positivo da coisa.

Quanto ao fatalismo. Ah, o fatalismo! Das nossas melhores qualidades. Não pela tendência de auto-mutilação mas por, apesar de sabermos que vai dar para o torto, e "avançarmos para a frente" gritando, de olhos fechados, "seja o que Deus quiser!". A coragem de enfrentar o desafio, o medo e os problemas, sempre com esperança de ver um dia melhor - apenas para o podermos estragar de novo. Não interessa, damos um pontapé nos maus agoiros, empurramos quem se mete à frente, esquecemos as regras gramaticais e lá vamos nós, navegando pelas tempestades. E assim continuaremos, presos a um barco de papel, com um leme de barro, navegado por homens de ferro num mar de espinhos para chegar à ilha dos amores.

O porquê de escrever isto agora? Porque hoje, mais do que nunca, me orgulho de ser português! Orgulho-me de ver a força de vontade nos olhos deste povo! Orgulho-me de ouvir palavras de ordem e de esperança nas ruas! De passear por este país e saber que se mantém o mesmo! De saber que melhores dias virão e que estarei cá para vê-los ao lado de todos os portugueses que se dignem a usar esse mote de Dom Afonso Henriques!

Bora, avancemos para a frente.

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